A (má) Vaidade

quarta-feira, agosto 24, 2011

« (...) Porque os outros se compram e se vendem? E os seus gestos dão sempre dividendo... Porque os outros são hábeis mas tu não?» - Sophia de Mello Breyner/Francisco Finhais.

Tanto os jornais, como as revistas, a televisão, a rádio e os restantes órgãos de comunicação são, cada vez mais, os grandes assopradores da vaidade humana. É público: a malta vaidosa sempre existiu. Incontestavelmente, porém, nunca em toda a história da humanidade a vaidade foi, como no nosso tempo, o principal motor das ações e da conduta do cidadão, do dirigente, do homem público, do político (seja qual for a sua cor), etc. Vir no jornal, ter o nome impresso - preto no branco - é hoje, para os mortais, que vivem em sociedades ditas civilizadas, a aspiração e a recompensa supremas - sobretudo para os políticos. Nos velhos regimes aristocráticos, o grande esforço dos que tinham ambições no campo da política e nos negócios públicos era obter, se não já o favor em si, pelo menos o sorriso do príncipe. Nas novas democracias (das orgânicas às socialistas e populares) esse esforço é gasto a alcançar a atenção e o louvor da comunicação social. Para conseguirem as dez ou doze linhas de texto, os políticos praticam todas as ações - incluindo algumas boas de que ninguém os julgaria capazes - e não é necessário que as tais linhas contenham um panegírico todo ornamentado. Não há partido ou confissão política que não esteja devorada por este apetite mórbido do reclamo. Ele é tão vivo no truculento e vampiresco fascista ou no social-democrata de falinhas mansas e intenções reservadas, como no marxista de ciência seca e hierática, ou no tenebroso e fanático conspirador de extrema-esquerda, lúgubre, sectário e irresponsavelmente feroz. A todos eles toca, sem exceção, sejam reacionários ou furistas, oportunistas ou charlatães, sócrates ou coelhos, esta esperança radiosa de aparecer nos escaparates.
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Cuidado com os teleféricos.

2 comentários:

Unknown disse...

mas temos que admitir... há sempre alguém melhor que nós. mas esse alguém podia ser um bocadinho mais humilde. percebi o que quiseste dizer.

Lady Me disse...

É bem verdade! Tudo por uns momentos de "fama", nem que ela no geral seja muito má.

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