O Exame

«Confesso estar espantado com os seus exames, minha senhora. Você parece possuir qualidades sobre-humanas; tem a certeza que é deste planeta? Já sabe que pode falar à vontade comigo - sou seu médico. Vá, desembuche lá.. você é de Úrano não é? Marte?»

Mania esta de ter que me sair bem em tudo o que faço. Não sei explicar como tudo se processa, mas sinto que há qualquer coisa por trás de tudo isto. Não acredito tratar-se de perfeccionismo, nem tão pouco de populismo, o mais certo é que tudo não passe de um falso alarme. [...] Um caso paradigmático do que atrás afirmo é o que acontece precisamente nesta altura do ano; juntamente com a Páscoa, chegam - para mim - os Check-ups's, uma bateria de exames, as análises, em suma - tudo o que sirva para aferir a minha valia ao nível da saúde.. e, como não podia deixar de ser, chega também a necessidade de me sair bem nesses exames. Um exame? Quero sair-me bem! Vamos lá, respira fundo, tu consegues. Façamos, então, um raciocínio muito simples: Vamos imaginar que tenho marcada uma consulta no otorrinolaringologista. À luz do que foi dito anteriormente, como já devem calcular, o melhor que me podem dizer é: Olaré! Você, meu rapaz, tem uma super audição. O que você ouviu foi, nada mais nada menos, que uma bola de cotão a cair no chão. Vou já enviá-lo para um centro de pesquisa no Suriname. E quem diz otorrino diz cardiologia: Homessa! O que temos aqui? Três corações, você é um fenómeno homem. Espere aqui um momento, não fuja, vou só chamar os meus colegas - quero que eles vejam isto! Ou oftalmologia: Ó gaiato, onde é que arranjaste uma visão destas? Tu consegues ver os astros melhor que muitos telescópios. Eu próprio encarregar-me-ei de enviar os resultados para Washington. Estive a falar com alguns colegas americanos e eles querem que tu conheças o presidente Obama.
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Cuidado com os teleféricos.