O Jornal

«Que porcaria é esta? Isto é inadmissível! Olha-me para esta imundice, agora vou ter que ir lavar as mãos. Só há uma solução para isto, e eu sei qual é...»

Se há coisa que as pessoas não gostam - e eu não sou certamente excepção - é de ter as mãos sujas. Lembro-me de pensar, quando era mais petiz, que todo o mal no mundo se devia às mãos sujas e o caso, fiquem sabendo, não era para menos. A actualidade era dominada por guerras (Golfo, Balcãs,..), mortes (Diana, Kurt Cobain, Nixon,..), conspirações (Guerra Fria, Varginha, Área 51,..), casos tal maneira intrincados e espinhosos que um simples "Ivan, vai lavar as mãos!" representava um desafio de vida ou morte. Mas um dia, o mito caiu por terra. Com a força de trezentos meteoritos, duzentos furacões e cinquenta tempestades a notícia caiu que nem uma bomba e o meu pequeno mundo fragmentou-se em mil e um pedaços. Recordo-me como se fosse hoje: 29 de Outubro de 1995, a noite estava fria e eu, um jovem de seis anos, lutava ferozmente, porém a perder a guerra, com um ataque de soluços. A solução? Lavar as mãos claro! E lá fui eu, destemido, corajoso, na derradeira tentativa de suprimir aqueles malditos espasmos. A guerra, essa, estava praticamente ganha; Os soluços começavam a bater retirada, ouviam-se gritos de misericórdia, bandeiras brancas esvoaçantes por todo o lado até que...vindos do grande nada, os meus progenitores dão inicio a um fulminante, e acima de tudo misterioso, turbilhão de riso. Depois de uma conversa de pai-e-mãe-para-filho, o mito extinguiu-se para todo o sempre. Adiante. Actualmente, o taciturno mundo da sujidade é, em grande parte, controlado/dominado pelos jornais - todos sabemos; De tal modo, que tenho uma tese nada consensual, onde defendo que juntamente com o jornal deveria vir um pacote com toalhetes de limão tudo em nome da limpeza. Não há como escamotear esta realidade, uma pessoa se quer estar a par da actualidade tem que, invariavelmente, sujar as mãos. Vejam o exemplo das marisqueiras, vejam! Depois da refeição é garantido que vem o toalhete. Abaixo a tinta barata! Viva a limpeza!
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Cuidado com os teleféricos.