A Nossa Pequenez

quinta-feira, abril 15, 2010

«Desculpe, importa-se de repetir?»

Quem não considerar de bom tom o excesso de adjectivação é melhor parar por aqui. A partir da próxima linha o que não faltarão são qualificativos, superlativos e demais hiperbólicos vocábulos. Feito o reparo, dizer que apesar de estranho temos muitas razões para ser felizes. Por alguma razão, ainda desconhecida, provavelmente genética, não o somos. Na verdade somos um pobre coitado, um eterno deprimido, um péssimo exemplo que se queixa de tudo e de nada, que se odeia e que, como não podia deixar de ser, detesta o sucesso alheio. Somos um país brando, negligente, um país promotor de incompetência e pouco humilde. Falha após falha a História faz-se, os casos repetem-se, os factos acumulam-se e este epíteto que se criou à volta do nome Portugal mina, por completo, a nossa, tão importante, confiança. Há alguns anos aprendi que: "os exemplos vêm sempre de cima". Se assim é, e numa altura em que se fala abertamente de crise, numa altura em que, mais do que nunca, se pede sacrifício, esforço e empenho aos portugueses, que idiotice é esta de dar tolerância de ponto aos trabalhadores nos dias 11, 13 e 14 de Maio, em virtude da visita do Papa ao nosso país? Estará Sócrates a tentar comprar o seu prometido "cantinho no céu"? Chamem-me reaccionário, herege, Velho do Restelo, que posso bem com a vossa prosápia, não façam é de mim um pateta. Esta iniciativa (já nem vou discutir a inconstitucionalidade que a questão encerra) não tem finalidade nem a mínima razão de ser. Recuso-me, por conseguinte, a ludibriar a realidade, recuso-me a pactuar com um Estado que pratica terrorismo institucional, não quero fazer parte de um país menor. Bem sei que temos um histórico de aproximadamente quarenta anos de ditadura, porém já vai sendo tempo de romper definitivamente com esse passado terrível. Olhemos de soslaio para a índole trabalhista dos japoneses - não de forma reprovável, mas com um misto de admiração e indulgência - que têm direito a três dias de férias anuais. Costuma dizer-se que tudo o que é demais é doença - neste ponto estamos de acordo - mas estamos também perante um caso paradigmático de amor à causa, de amor à pátria. É preciso dar um passo em frente, é preciso fazer mais - não vou aderir "à borla" do governo. Tempos houve em que acreditar que a Terra gira à volta do Sol indiciava demência e loucura, hoje começo relutantemente a aceitar que o enfermo sou eu.
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Cuidado com os teleféricos.

12 comentários:

Lane Ferreira disse...

Ola Ivan.. adoramos a tua presença masculina no nosso Blogger.. és sempre bem vindo!!!
obrigada pelo comentario.. partindo do principio que tbm és um homem inteligente e que sabes o que escolher !!kk
bjinhossss

Mariana marciana disse...

Como eu concordo contigo... acho uma hipocrisia, mais, acho uma tentativa descarada de relembrar os tempos do "com as mãos na enxada e os olhos no senhor"...
A seguir vão dar-nos futebol e fado, nós só "papamos" se quisermos... Temos o país que merecemos.

Wilson disse...

Sei bem quem não vai ver o Papa. Sei bem quem vai mudar para qualquer um dos inúmeros canais de cabo enquanto estiverem a falar desse senhor. Sei bem que não vai ver as cerimónias. É-me completamente indiferente este Papa. A cara dele não me inspira confiança.

E sim, de facto é de uma completa estupidez darem tolerância de ponto só porque o Papa vem cá.

Sempre que o Cristiano Ronaldo vier a Portugal vou exigir tolerância de ponto.

Haja paciência.

Wilson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Random Blogger disse...

Gosto do que escreves. Não poderia estar mais de acordo. Sabes que mais? Odeio pessoas. São idiotas. E no que mete política... ainda mais idiotas são!

Cuca disse...

Gostei do blog, gostei da escrita. Rediges bem os textos, exploras bem a língua portuguesa e com 20 anos escreveres desta forma é um orgulho. Eu adoro explorar a nossa língua através de uma boa leitura e não te chego aos pés na qualidade de escrita. Parabéns. Embora discorde de uma ou outra ideia confesso que foi um prazer ler este e outros textos aqui publicados. Voltarei, com certeza!

Emília Pam disse...

Se és herege muito boa gente devia seguir o teu exemplo! Não falo dos três dias, nem da enconomia, nem do governo, pensando já ter gasto o bastante o meu latim, mas vai-me custar a digerir a credulisse católica beata portuguesa à visita papal, isso sim, acho repugnante.

Bem Hajas!

ritinha disse...

É de facto extremamente ridiculo.
E mais objectivos não utilizo pois tu conseguis-te redigir os melhores e mais verdadeiros !

Sei bem que a maioria que terá direito a esses dias nem irá usufruir deles.

Sou católica e acho agradavel que o papa venha cá. Mas acho que as comemorações deviam passar para o fim-de-semana e ainda assim quem quisesse ir podia sempre usar os dias de férias.. afinal eles servem para isso !

Ainda me consigo surpreender com as decisões rediculas que existe neste país.

Inês disse...

:) é verdade. obrigado pelo comentário .bj

Kika disse...

Este Ivan... "Um orgulho"!!! É isso mesmo. ;)

Pés de bailarina disse...

É 1ª vez que passo por aqui.
Mas gostei do que li, uma opnião segura de sim e objectiva.

E cá entre nós...eu começo a entender o desrrespeito e falta de orgulho que cada vez mais há na população portuguesa.

Um beijo!

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